Iowa: por que esse pequeno estado será ainda mais crucial para as eleições dos EUA
O ciclo eleitoral que promete ser um das mais conturbados da história americana começa para valer: na segunda-feira, os eleitores do estado de Iowa serão os primeiros a votar no processo de escolha do candidato do Partido Democrata. Os resultados de Iowa sempre são um termômetro importantíssimo para o desenrolar das primárias, como é conhecido o processo de escolha dos candidatos pelos partidos americanos. Mas, neste ano, o país vai dar atenção redobrada para o que vai acontecer naquele estado pequeno, rural e que pouco representa o que são os Estados Unidos hoje.
Iowa representa uma tradição – embora não tão antiga assim, pois foi apenas na década de 1970 que o estado passou a inaugurar o ciclo das primárias. Apesar do pouco peso em termos de delegados que votam na convenção, quem sai vitorioso nessa primeira etapa da disputa interna tem uma vantagem inegável. Barack Obama derrotou Hillary Clinton em Iowa em 2008, uma vitória que representou um impulso decisivo para sua campanha.
Historicamente, a esta altura já aconteceu uma peneira considerável dos pré-candidatos. Mas não é o que se vê este ano. Ainda há 12 democratas pleiteando a indicação do partido. Seis deles têm chances reais de enfrentar Donald Trump na eleição geral, em novembro. Quatro estão mais bem colocados nas pesquisas de opinião realizadas em Iowa. São eles o ex-vice-presidente Joe Biden (em primeiro nas sondagens mais recentes), os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren e o ex-prefeito da pequena South Bend Pete Buttigieg.
Outros dois nomes que não estão entre os favoritos, mas ainda não podem ser considerados carta fora do baralho, são a senadora Amy Klobuchar e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg (que não está participando da disputa em Iowa).
O processo de impeachment de Trump, que está correndo no Senado, também pode ter uma influência importante neste primeiro caucus. (Iowa é um dos poucos estados que ainda mantêm esse formato antiquado, no qual os eleitores manifestam sua preferência levantando a mão, por exemplo; a imensa maioria dos estados realiza primárias, que são votações tradicionais, com cédulas.)
Na reta final de um estado tão decisivo como Iowa, os pré-candidatos correm de um evento de campanha para o próximo, tentando maximizar o cara-a-cara com as pessoas que podem determinar o sucesso ou o fracasso de suas campanhas. Mas Warren, Sanders e Klobuchar tiveram de interromper suas campanhas no estado para acompanhar o julgamento do impeachment do presidente. (O caso deve ser submetido a voto na quarta-feira; com maioria folgada no Senado, Trump será absolvido das acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso.)
Enquanto os senadores estavam em Washington, Biden e Buttigieg tiveram terreno livre para cortejar pessoalmente os eleitores de Iowa e dar-se o luxo de até mesmo visitar dois dos próximos campos de batalha, New Hampshire e Carolina do Sul.
Iowa também deve dar as primeiras pistas sobre que tipo de candidato os democratas escolherão para brigar pela Casa Branca. Será um nome da extrema esquerda do partido, como Sanders ou Warren, que baseiam seus programas de governo em planos ambiciosos de cobertura de saúde universal, perdão de dívidas estudantis, educação superior gratuita e taxação agressiva dos mais ricos? Ou será que o partido vai optar por candidatos mais centristas, como Biden, Buttigieg ou Bloomberg, que poderiam ter mais apelo junto a potenciais eleitores de Trump?
Apesar de ser considerado um candidato mais palatável pela maioria do eleitorado, Biden perdeu espaço para o autointitulado socialista Bernie Sanders, segundo uma pesquisa The Wall Street Journal/NBC divulgada na noite de quinta-feira.
Os democratas que participarão das primárias em todo o país colocaram Sanders em primeiro lugar, com 27% das preferências (um salto de 6 pontos percentuais em relação a dezembro). Biden vem em segundo lugar, com 26%, Warren, em terceiro, com 15%, seguidos por Bloomberg (9%) e Buttigieg (7%). A margem de erro da pesquisa é de 4,7 pontos percentuais.
Por mais que os candidatos tentem se diferenciar em termos de programas de governo, o objetivo maior da oposição é escolher um nome capaz de impedir que Donald Trump fique mais quatro anos na Presidência.
Conhecidos os resultados de Iowa, o quadro talvez fique um pouco mais claro por parte dos democratas, mas somente depois da Super Terça (3 de março), quando são escolhidos cerca de 40% dos delegados que votam na convenção do partido, é que haverá uma imagem mais definida de quem tem as melhores chances de figurar nas cédulas.
Mesmo com a esperada absolvição no Senado na quarta, o indiciamento de Trump pela Câmara é irrevogável. Ele será o primeiro presidente da história dos Estados Unidos a concorrer à reeleição com essa mancha no currículo.
Na campanha, porém, Trump vai seguir repetindo seu mantra: o impeachment foi uma caça às bruxas, uma campanha orquestrada pelo Partido Democrata para tirá-lo do poder de forma ilegítima. Não houve toma-lá-dá-cá com o governo ucraniano – a Casa Branca não segurou um pacote de ajuda militar em troca de informações que pudessem prejudicar a campanha de Joe Biden.
Trump também vai recorrer ao medo como arma política. O candidato ou a candidata do Partido Democrata será inevitavelmente tachado de “socialista”, disposto a abrir as porteiras do país para imigrantes que vão roubar empregos – e ameaçar a segurança – da população americana. E sua retórica, como deixam claro suas postagens no Twitter, continuará sendo agressiva e belicosa.
A polarização extrema da política americana não vai diminuir, pelo contrário. A economia, um dos fatores decisivos em qualquer eleição, também será observada com atenção. Depois de dez anos de expansão contínua, os economistas preveem um inevitável desaquecimento – mas, se isso será suficiente para ameaçar Donald Trump, ainda é cedo demais para dizer. Até a eleição geral, em 3 de novembro, haverá muito derramamento de sangue.
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Fonte: FONTE INFOMONEY